domingo, 5 de junho de 2016

Orgulho do Gueto: Sergio Vaz da Cooperifa em Jornal Contexto

Essa matéria foi publicada em Outubro de 2015 com 5000 tiragens no jornal impresso da quebrada com que tinha o nome de Jornal da Região que hoje é o Jornal Contexto

Um bate papo com o idealizador da cooperifa: Poeta Sergio Vaz
Cooperifa é um simbolo de resistencia que completa 14 anos  


1)    O que você acha do projeto Narra Várzea, que mistura poesia e futebol? (Kennyaata, Narra Várzea).

 R: Tem tudo a ver, a Cooperifa tem o projeto Várzea poética ; com os times da região que participam do Sarau. O futebol de Várzea é a maior cultura da periferia.

2)    É fato que os recursos não chegam às bordas de qualquer geografia brasileira, e quem dera fosse por esquecimento ao invés de literal poda. Com isso, a população tende a criar saídas (educacionais, artísticas, malabarísticas e etc), que é onde nos encontramos e onde você é pioneiro em muitos argumentos. A partir disso, também é comum que por acessibilidade, você seja mais cobrado ou pelo menos, visto, que os governantes. Como lida com esse fato de ser um homem algo (longe da brancura da palavra)? (Eduardo Dias, Sarau Verso em Versos).

 R: Sim, é uma responsa, mas não um fardo. Nasci na quebrada, não posso fugir das responsabilidades e da honra que é, lutar por aquilo (e aqueles e aquelas) que acredito. Muita gente morreu e morre para que pessoas como nós, possam seguir em frente por uma periferia melhor pra viver.

3)    Como você projeta a Cooperifa para daqui 10 anos? (Marcio Vidal Marinho, Professor e Escritor).

R: Penso nos jovens no comando e a Poesia tão popular como Samba, o RAP, o Funk.

 4)    Qual a importância de se fazer o sarau nas escolas? (Binho, Sarau do Binho)

R: Nós temos que trabalhar a Poesia na Base, não há como falar de militância na Poesia se a gente não disseminá-la entre os jovens. Também me entusiasma ser parceiro da Escola e dos professores, hoje tão abandonada pelo Estado e a sociedade.

5)    Na minha opinião, o Prêmio da Cooperifa era algo muito importante pra nós, tem alguma previsão volta ? (Paulo Magrão, Ong. Capão Cidadão)

 R: Sim, nos deu muito trabalho fazer e muita alegria também. Sim, temos idéia de voltar, mas ainda não temos previsão.

6)    O que você pensa sobre a cena atual dos saraus? ( Ni Brisant, Poeta e Educador)

R: A cena está muito rica, temos que aproveitá-la com sabedoria. Toda essa cena que aí está, tem tudo a ver com a periferia, se perdemos a identidade, perdemos a cena.

 7)    Qual foi sua principal influência no início da carreira? (Fino Du Rap, Rapper)

R: Em relação ao Hip Hop, primeiro meu sentimento é de gratidão, é como se eu também ouvisse o chamado de libertação da Periferia. A Cooperifa tem tudo a ver com o RAP. Comecei recitando Poesias em shows de Rap nos anos 90, já gravito na órbita do Hip Hop há tempos.

 8)    Como você enxerga o movimento dos saraus hoje, fazendo uma análise do que já passou, do que estamos passando e a perspectiva para o futuro? ( Alex “Cabelo”Jardim, Sarau Versos em Verso)

R: Acho que a gente não pode perder a perspectiva da Poesia, da pegada
periférica. Se um sarau começa somente pensando em editais, já nasce morto.
Não podemos esquecer que toda essa cena surgiu para dar um gás na
autoestima da periferia. Se a gente manter essa pegada, o futuro está
garantido para a Poesia. Senão... infelizmente será apenas chuva de verão.

 9)    A Cooperifa incentivou e incentiva direta e indiretamente vários coletivos a se formarem, e com isso reverbera a auto-estima das quebradas (periferia). Qual é sensação de saber que você é uma das grande referencias? Isso te incentiva mais ainda? (Jaime Diko Lopes,Espaço Comunidade)

 R: Não gosto da zona de conforto, gosto de pensar que sou o Leão da selva, tem dia que não almoça e nem janta, mas tem a liberdade como filosofia.  Tá ligado que prego que muito se destaca é o primeiro a tomar martelada. Gosto de ficar na minha.

10) O que é poesia? (Shidon Soares, Pintor e Poeta).

 R: Pra mim Poesia é forma pela qual me expresso com o universo. O que me mantém vivo e não me faz enlouquecer.

11) Qual o balanço destes 14 anos de cooperifa em relação à conscientização do entorno periférico de onde é feito o sarau? ( Marcio Rodrigues, Sarau do Pira)

R: A Cooperifa incentivou vários coletivos, incentivou pessoas a lerem a se interessar por arte e cultura, isso é um troféu que nós carregamos com orgulho (falando de Cooperifa).

 12) Qual a influência do Rap e da Cultura Hip Hop nos movimentos artísticos periféricos? (Gaspar, Z’África Brasil)

R: O RAP é o nosso hino, é a nossa trilha sonora.

 13) O que você acha da mercantilização da cultura que vem acontecendo na periferia, onde as pessoas que trabalham com a organização/contratação de eventos, estão mais preocupadas com o retorno financeiro dos editais do que com a qualidade das produções artísticas, pois, vemos que os nossos artistas continuam levando no peito e na raça em condições precárias, enquanto pessoas que não fazem idéia do que é arte, mas que dominam a técnica de escrever bons projetos, estão captando recursos e ganhando editais usando estes artistas e a própria cultura da quebrada, o que você acha de tudo isso ? (Marcus Rosa, Banda Veja Luz)  

 R: Isso é muito triste, inclusive acho que os Editais (não sou contra) está nos dividindo, colocando movimentos como rivais. Os capitães do mato já estão atuando em nossa quebrada, infelizmente. Mas temos que nos juntar com os verdadeiros e verdadeiras, essa coisa de verba passa, vai ficar quem tem amor a arte. vejo gente que nunca fez uma poesia ou um sarau enchendo o bolso de dinheiro e ainda pagando de revolucionário na quebrada. Tristes figuras.

14)  Durante sua trajetória o cansaço/desânimo alguma vez chegou perto de te vencer? E hoje o que temos a conquistar ou evoluir? (Gessé Silva, Sarau Versos em Verso)

 R: Sim, no começo da Cooperifa não tinha dinheiro nem pra gasolina, cortaram minha água minha luz, tomaram o meu carro, e eu sempre pensava:  será quevé isso mesmo? ; Mas o sonho é maior que a gente, né? Para evoluir temos que manter nosso amor pela quebrada e nosso respeito pela Poesia.

15)  Fala um pouco da mostra da Cooperifa deste ano ?

R: Linda, afinal são 14 anos de atividades culturais na perifa de São Paulo. Vocês vão pirar.